Crônica

Crônica: (Re)Engenharia do Rock: A PROMESSA

(Re)Engenharia do Rock

Leonardo Daniel

A PROMESSA

Engenheiros do Hawaii – Humberto Gessinger

Não vejo nada (o que eu vejo não me agrada)

Não ouço nada (o que eu ouço não diz nada)

Perdi a conta das pérolas e porcos

Que eu cruzei pela estrada

Estou ligado a cabo

A tudo que acaba de acontecer

Propaganda é a arma do negócio

No nosso peito bate um alvo muito fácil

Mira a laser, miragem de consumo

Latas e litros de paz teleguiada

Estou ligado a cabo

A tudo que eles têm pra oferecer

O céu é só uma promessa

Eu tenho pressa, vamos nessa direção

Atrás de um sol que nos aqueça

Minha cabeça não aguenta mais

Tu me encontrastes de mãos vazias

Eu te encontrei na contramão

Na hora exata, na encruzilhada

Na highway da super-informação

Estamos tão ligados

Já não temos o que temer

O céu é só uma promessa

E eu tenho pressa, vamos nessa direção

Atrás de um sol que nos aqueça

Minha cabeça não aguenta mais

Não aguenta mais

O céu é só uma promessa

E eu tenho pressa, vamos nessa direção

O céu é só uma promessa

E eu tenho pressa, vamos nessa direção

O céu é só uma promessa

Análise Pessoal:

Em “A promessa” temos uma profunda revisão existencial, que põe em dúvida as certezas de convicções baseadas, no ego e na tradição. É uma visão muito forte da realidade espiritual, fundamentada em dogmas, e entrelaçamento de ideologias. Religiosas ou não. O eu lírico diz: “Não vejo nada (o que eu vejo não me agrada)” e completa: “Não ouço nada (o que eu ouço não diz nada)” afinal ele já perdeu a conta das pérolas e porcos que ele cruzou nessa vida, nessa estrada. E ele, o eu lírico não é um incauto, ele está informado de tudo que acontece:

Estou ligado a cabo

A tudo que acaba de acontecer

A mídia exerce um papel preponderante de controle mental e social, assim a ”Propaganda é a arma do negócio” e somos frágeis e vulneráveis em relação a ela: “No nosso peito bate um alvo muito fácil”, pois temos um espírito gregário. E a mira no nosso peito é uma mira a laser, fatal, e somos só mais um número na estatística da miragem de consumo, mais um na multidão. Onde todos os dias temos latas e litros e paz teleguiada… ou seja, vindas das ondas do rádio, nos canais de TV, nas redes sociais e na internet.

Estou ligado a cabo

A tudo que eles têm pra oferecer

Depois de dizer isso tudo, o eu lírico faz uma afirmação e um convite, vamos a eles, primeiro ele afirma: “O céu é só uma promessa” … e quem pode provar o contrário? Ele tem pressa e convida todos aqueles que sabem que o céu é só isso mesmo: uma promessa. Que venham atrás dele. E é uma promessa que prende a humanidade em séculos e séculos de dogmas e descaso existencial. Para onde iremos? Iremos “Atrás de um sol que nos aqueça”, pois: “Minha cabeça não aguenta mais”. Agora, há uma relação dialética e dialógica entre ele o eu lírico e seu interlocutor primevo e idiossincrático, por ser exato.

Tu me encontrastes de mãos vazias

Eu te encontrei na contramão

Na hora exata, na encruzilhada

Na highway da super-informação

Aqui o mestre encontra seu discípulo, ou seria o discípulo que encontrou o mestre? O que importa é que agora eles estão unidos para sempre, ligados pela telepatia e pela intuição. Por isso mesmo os dois estão tão ligados e já não nada mais o que temer.

À guisa de conclusão:

Na canção “A promessa” as convicções religiosas são colocadas em dúvida diante da necessidade espiritual de se viver o aqui e agora, aqui na Terra, dentro da realidade do presente, tendo no Sol uma metáfora do que é o paraíso… o céu… próximo, real, luminoso e quente. Bem diferente dos dogmas alimentados pela crença dos que tem medo, de não ir para o céu, mas o seu interlocutor está a salvo… e ele pode representar a salvação de toda humanidade, já que antes a cabeça dele (o eu lírico – mestre) não aguentava mais, e agora: (Estamos tão ligados/Já não temos o que temer).

www.poetaleodaniel.com

Leonardo Daniel

25/11/2023

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *